Alunos saem do ensino médio sem inglês adequado para o mercado de trabalho
Pesquisa realizada pela Pearson mostra a urgência de falar bem o idioma e como a escola ainda não capacita os alunos com habilidades suficientes para o futuro profissional
Ter um segundo idioma pode ser um grande diferencial para encontrar um novo emprego. Mas para os estudantes que estão no ensino médio, principalmente, essa habilidade costuma ser um motivo de preocupação e insegurança devido às exigências do mercado de trabalho.
Recém-lançada, a pesquisa “Como o inglês capacita seu amanhã: o impacto transformador do inglês em sua carreira” avaliou os impactos da língua inglesa na carreira, mostrando que as deficiências do ensino do idioma na educação formal representam para os entrevistados significativas desvantagens.
Realizado pela Pearson, empresa multinacional britânica de educação, o levantamento aponta que, para 85% dos respondentes, o inglês é uma habilidade vital para o sucesso profissional e 72% acreditam que o trabalho seria mais fácil se tivessem um domínio maior do idioma.
“Desde criança eu sempre ouvi da minha mãe o quanto o inglês era importante. Agora, com 38 anos, eu percebo que isso ainda não mudou. E as empresas também entendem que é um diferencial”, afirma Diego Sette, diretor de Tecnologia da Pearson Latam e porta-voz do estudo. A pesquisa reuniu mil pessoas de cada um dos países participantes: Arábia Saudita, Brasil, Estados Unidos, Itália e Japão. Todos os respondentes tinham o inglês como segundo idioma ou como língua adicional (nos EUA, os entrevistados eram imigrantes).
Estudantes, professores e empregadores avaliaram como cada um desses segmentos considera necessário ou importante saber falar inglês. “Ao olhar para o mercado de trabalho, é possível perceber que as empresas internacionais estão olhando para a América Latina como um local em potencial”, destaca Diego.
Ao observar as dimensões do Brasil, contudo, o diretor reconhece que há um desafio grande em termos de infraestrutura e oferta. Ainda que atualmente existam diversas plataformas de ensino de idiomas e outras facilidades de cursos online, ele comenta que os entraves na implementação do 4G e do 5G influenciam o alcance que tais cursos têm, limitando em certo sentido o quanto as pessoas conseguem acessá-los.
Formação e qualificação
Outro entrave ressaltado por Diego é a formação docente em língua estrangeira. Apesar de a pesquisa não tratar diretamente sobre o assunto, o diretor reflete, a partir de sua própria experiência, o quanto é fundamental possibilitar um caminho acadêmico mais robusto na área.
Formado em Letras Português-Inglês, ele conta que, quando começou a dar aulas, notou que alguns colegas tinham domínio do idioma. “Eu vejo que no futuro a gente precisa exigir muito mais da qualificação do professor para que ele possa, por sua vez, poder exigir do aluno”, comenta.
Muitas famílias buscam cursos extracurriculares de idiomas por entenderem a necessidade de aprendizado e pelas deficiências existentes no ensino regular.
Uma das reclamações destacadas na pesquisa está justamente na estrutura dos cursos. A pesquisa destaca que estudantes estão saindo da educação básica sem as habilidades de língua inglesa que necessitam para melhorar sua situação no mercado de trabalho. Ao todo, 54% dos respondentes dizem que sua educação formal não os capacitou com um bom nível de proficiência em inglês e apenas 25% se sentem confiantes nas quatro habilidades essenciais: falar, ouvir, ler e escrever (sendo falar e escrever as mais baixas).
Uma das críticas relacionadas à estrutura de ensino é que há um foco maior em vocabulário e gramática e menos atenção à fala, habilidade importante no mundo do trabalho.
“É como um esporte: se você não pratica, não vai estar bem o suficiente para se desenvolver ou ter uma desenvoltura adequada dentro daquela exigência. Se praticar constantemente, você terá uma performance melhor, ou seja, vai ser proficiente”, ressalta Diego.
O diretor ressalta, contudo, que essa situação não se resolve apenas com a formação docente. É importante que a estrutura de ensino se altere. “Não adianta ter um professor proficiente, certificado, com uma didática maravilhosa, se a estrutura da escola não suportar esse tipo de educador. É como ter um piloto incrível em um carro ruim”, comenta.
A falta de oportunidade para falar o idioma fora da escola também é um complicador entre os entrevistados da pesquisa: 46% destacaram que não tinham aulas para treino oral suficientes e 50% disseram não ter oportunidade para falar o idioma fora da sala de aula.
Medo da tecnologia
Entre os desafios associados ao mercado de trabalho e ao aprendizado de um novo idioma, 40% das pessoas ouvidas destacaram que decidem aprendê-lo para diminuir os impactos da inteligência artificial e da tecnologia em seus empregos. Outras motivações neste âmbito também mostram que 42% dos entrevistados querem saber inglês para se colocar a par dos desenvolvimentos mais recentes em tecnologia e 38% disseram que estudam o idioma para serem mais competitivos em face dessas novas ferramentas.
“A primeira reação das pessoas é ter medo [das novas tecnologias] e a gente precisa desmistificar algumas coisas em relação à inteligência artificial. Quanto mais informações colocarmos à disposição das pessoas, mais conseguimos trazer confiança. Tendo confiança, você melhora a performance e a qualidade”, finaliza Diego.
Fonte: Portal Porvir - Ruam Oliveira