Bem-estar docente: ideias para desviar da negatividade e aproveitar o tempo presente
Enfrentar desafios faz parte da vida de todos, mas algumas atitudes simples voltadas ao autocuidado ajudam no dia a dia de quem trabalha com educação
Ultimamente, tenho passado por um período difícil. Sinto que não tenho estado presente na vida das pessoas da maneira que costumava, com calor humano e foco. Estou ciente de como os seres humanos têm uma tendência a notar mais o negativo do que o positivo: segundo o psicólogo Rick Hanson, “na prática, o cérebro é como velcro para experiências negativas, mas como Teflon (material antiaderente) para as positivas. Isso influencia a memória implícita – seus sentimentos subjacentes, expectativas, crenças, inclinações e humor – em uma direção cada vez mais negativa”.
Compartilho aqui algumas estratégias que tenho achado úteis quando me sinto esgotada e um pouco desanimada – estratégias que me ajudam a me sentir mais presente e positiva. O trabalho na educação é tremendamente desafiador e complexo, e embora este texto não se destine a situações envolvendo traumas ou doença mental, espero que as ideias possam apoiar o bem-estar docente.
Preste atenção à sua linguagem
A linguagem é importante. Isso inclui a linguagem que usamos internamente e a linguagem que expressamos aos outros. Acho a seguinte sugestão útil porque me ajuda a reconhecer que enfrentar desafios muitas vezes faz parte da história, mas não é toda a história: “Isso é difícil e _______ (estou crescendo, estou sendo forte, etc.)”. “Isso me incentiva a reconhecer o que estou fazendo bem apesar (e como resultado) de enfrentar dificuldades.”
Outra sugestão útil que me ajuda a me reajustar é: “Como a história que estou contando para mim mesmo (ou a linguagem que estou usando) está me servindo?” Isso me lembra da tendência humana de dar uma conotação negativa a uma situação e me move em direção à ação dentro da minha esfera de controle. Perguntas para me ajudar a me concentrar no que está em minha esfera de influência incluem: “Isso é algo que tenho controle? Se sim, como posso focar na ação?”
Por fim, “O que eu preciso agora?” me ajuda a decidir se preciso de uma pausa, de mais recursos ou se preciso mudar de atitude.
O uso de mantras também tem me ajudado a mudar meu humor – frases como “Emoções e estados de espírito passam”, “Estou cercado por pessoas que se importam e também enfrentam desafios” e “Eu vou superar isso”. Eles não só me ajudam no meu bem-estar docente (também como colega e aprendiz), mas também ajudam os alunos, pois eu demonstro o uso do diálogo interno para encorajar e reconhecer. As emoções importam, e elas não são permanentes.
Preste atenção às histórias pessoais
Por estar ciente de como as histórias influenciam minha forma de agir, como me sinto e minha capacidade de trabalhar efetivamente, esforço-me para examinar as histórias que conto a mim mesmo sobre uma situação. Em “The Art of Coaching Teams: Building Resilient Communities That Transform Schools” (“A arte de treinar equipes: construindo comunidades resilientes que transformam as escolas”, em tradução livre), Elena Aguilar introduz a ideia de histórias de rio e histórias de rotina.
Histórias de rio são narrativas úteis que destacam minha mentalidade de aprendiz e se concentram no crescimento e nas lições que posso aprender com uma experiência. Histórias de rotina são limitadoras e podem me levar a me sentir na defensiva para me proteger. Não consigo resolver problemas efetivamente e me sinto em uma rotina.
Aqui está um exemplo de uma história de rio que conto a mim mesma: “O problema prático que enfrentamos como equipe é complexo, e sei que juntos podemos encontrar estratégias poderosas”. E este é um exemplo de uma história de rotina: “Nossa equipe sempre empaca nessa questão. Acho que estão me culpando por ser um obstáculo ao processo”.
Se me pego contando uma história de rotina, tento focar em evidências concretas, para me afastar de fazer suposições: “O que está realmente acontecendo aqui?” (em vez de Qual é a minha interpretação do que está acontecendo?). Quando faço suposições, pulo para conclusões e imagino o pior, enquanto me concentro em minhas fraquezas.
A psicóloga Kristin Neff sugere falar conosco como falaríamos a um bom amigo. Isso me ajuda a trabalhar o bem-estar docente a partir de uma mentalidade de autocompaixão. Por exemplo, posso dizer: “Kathy, você está se concentrando no negativo e sendo muito dura consigo mesma. Em vez disso, vamos escrever sobre isso e depois fazer algo criativo para dar algum espaço para essa questão.”
Também posso revisitar aquilo que fiz no passado que pode me ajudar em uma situação atual; isso me permite me sentir hábil e capacitada.
Por fim, pergunto a mim mesmo se a história que estou contando realmente é um devaneio sobre algo que está fora do meu controle. Se for o caso, posso optar por me afastar da história e focar em outra coisa. Para mim, uma grande área de devaneio é a preocupação: preocupo-me que não estou preparado o suficiente para a apresentação de segunda-feira. Mas se fiz o meu melhor para me preparar com intenção, é hora de me afastar e trabalhar em outro projeto ou sair para tomar um ar fresco.
Esteja presente e consciente
Muitas vezes, a melhor solução para mim é estar consciente e me trazer de volta ao momento presente, em vez de devanear sobre o passado ou me preocupar com o futuro. Aqui estão algumas estratégias que utilizo: respirar e diminuir o ritmo, dedicar um minuto para encontrar gratidão na minha vida. Também ajuda focar mais intencionalmente na tarefa em mãos, organizando meu espaço de trabalho e desligando distrações tecnológicas.
Como educadores, dedicamos nossos corações e almas aos nossos alunos. Cuidamos intensamente deles como seres humanos e como aprendizes. Espero que este artigo sobre bem-estar docente possa ajudar outros educadores a se sentirem mais presentes neste momento e em tudo o que ele tem a oferecer, a estar cientes das emoções e saber que estão se comunicando por meio de palavras e linguagem corporal. Também espero que nos ajude a nos sentirmos confortáveis em ser vulneráveis uns com os outros e com nossos alunos, porque todos enfrentamos desafios e contamos histórias a nós mesmos.
Notas para o bem-estar docente
- Atenção à linguagem: prestar atenção à linguagem que usamos, tanto internamente quanto externamente, pode ajudar a mudar nossa perspectiva e atitude.
- Atenção às histórias pessoais: examinar as histórias que contamos a nós mesmos sobre uma situação pode nos ajudar a identificar padrões limitantes e desenvolver histórias mais positivas e empoderadoras.
- Presença e consciência: estar presente no momento presente, sem se deixar levar pelo passado ou pelo futuro, pode ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade e aumentar a sensação de bem-estar.
*Publicado originalmente em Edutopia e traduzido mediante autorização © Edutopia.org; George Lucas Educational Foundation
Fonte: Portal Porvir - Kathy Collier, do site Edutopia