Como estruturar uma escola para metodologias ativas?
Mesmo com tantas estratégias para colocar a aprendizagem no centro das escolas diante das mudanças sociais, ainda é difícil implementar metodologias ativas de maneira efetiva. Confira as recomendações para gestores.
As escolas são constantemente convidadas (ou convocadas) a responder às demandas de atualização diante das grandes transformações sociais no mundo em que vivemos. Colocar a aprendizagem no centro dos esforços parece ser uma urgência, e não faltam receitas de como fazer isso. Mas, se existem fórmulas prontas, por que parece ser tão difícil estruturar nossas escolas para a aprendizagem ativa?
Talvez porque estamos tentando responder a essa pergunta com protocolos e regras, quando, na verdade, se trata de uma mudança significativa de princípios.
Reconheça que sua escola é parte de um todo
Primeiro, é importante entender que uma escola que pretende implementar metodologias ativas precisa reconhecer que faz parte de um todo maior. Aqui se aplica o princípio da totalidade, ou seja, entender que estamos trabalhando em um microcosmo da sociedade em evolução, um espaço permeável. Como dizia o filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey (1859-1952), a educação não é uma preparação para a vida que virá, mas a própria vida acontecendo agora e, ouso complementar, dentro e fora da escola.
Quando a escola se vê como parte desse todo, ela pode oferecer aos estudantes uma formação que aborde questões de sustentabilidade, equidade, diversidade e inclusão, garantindo que a educação seja significativa e relevante para a vida dos estudantes e para o futuro de todos nós.
Fortaleça e qualifique as relações humanas no espaço escolar
O segundo ponto de transformação é o cuidado com as relações humanas, que são o alicerce de qualquer ambiente de aprendizagem. A qualidade dessas relações dentro da escola impacta diretamente a forma como estudantes, professores e funcionários conseguem navegar na complexidade do mundo. Para que as metodologias ativas funcionem, os vínculos entre as pessoas – sejam elas estudantes, educadores ou a comunidade escolar – precisam ser confiáveis, gentis e em constante abertura para a aprendizagem.
Fomentar um ambiente de confiança, respeito e colaboração é essencial. A aprendizagem ativa não prospera em ambientes onde predomina a competição ou o isolamento. Ao cultivar relações humanas de qualidade, a escola promove o trabalho em equipe, a multiplicidade de olhares para os problemas e as habilidades superiores de hipotetização e criação de novas soluções.
Crie caminhos únicos, mas conectados
O protagonismo, ou autoria, como gosto de descrever, é o terceiro pilar central de uma escola que trabalha com metodologias ativas. Para que esse modelo de aprendizagem tenha sucesso, é importante reconhecer que cada estudante trilha um caminho único, e é responsabilidade da escola oferecer as ferramentas, oportunidades e o espaço seguro para que esse percurso seja significativo.
As metodologias ativas são sempre um convite para que a voz do estudante seja ouvida e para que ele possa construir seu próprio percurso de conhecimento. Mas isso não significa, nem de longe, o isolamento do estudante em seu processo. A escola, neste cenário, oferece acolhimento, suporte e encaminhamento, garantindo que o estudante tenha autonomia e segurança para explorar seus interesses e curiosidades de forma orientada.
Cultive um espaço que valorize as singularidades e as diferenças
Quando os estudantes são convidados em sua inteireza, cada vida neste espaço traz consigo uma história, uma cultura, necessidades, demandas e desejos únicos. A escola que se pretende ativa deve ser um espaço que reconheça, acolha e celebre essa diversidade. Aqui, a gentileza, não como conceito, mas como prática, é a base para criar um ambiente de pertencimento, fundamental para o processo de aprendizagem.
Crie condições para que a aprendizagem para a vida seja para todos
Ainda pensando no pertencimento como base do sucesso da aprendizagem, a escola precisa convidar todos os membros da comunidade escolar a serem aprendizes. Professores, funcionários, equipe de gestão, famílias e, claro, os estudantes devem se ver como parte de um ciclo contínuo de aprendizagem, criando uma cultura de desenvolvimento constante, onde sempre existem próximos passos a serem dados.
Ao promover uma cultura de aprendizagem coletiva, a escola garante que o aprendizado não está restrito às salas de aula, mas permeia todas as interações e momentos do dia a dia escolar. Quando todos se veem como aprendizes, a escola se torna um espaço de experimentação, reflexão e crescimento para toda a comunidade.
Garanta que a escola tenha a cara da sua comunidade
Por fim, uma escola que se prepara para implementar metodologias ativas precisa estar constantemente se reinventando para ser culturalmente responsiva às demandas de seus estudantes, de seu entorno e de sua comunidade de famílias e professores.
Um ambiente de aprendizagem ativo é, por natureza, dinâmico e aberto ao mundo. O recorte de mundo que faremos dentro da escola deve estar conectado ao que nossa comunidade vive fora dele, para que, assim como as questões entram na escola, as aprendizagens que vão sair dela sejam aplicáveis na vida de todos.
Leticia Lyle - É pedagoga e mestre em Currículo e Educação Inclusiva pelo Teachers College da Columbia University, nos Estados Unidos. É cofundadora da Camino Education e da Cloe, além de diretora da Camino School. Também é coautora do livro "Convivência Ética na Educação" e conselheira do Instituto Porvir e do Instituto Ame Sua Mente.
Fonte: Portal Porvir - Leticia Lyle