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Governo de SP monitora redes sociais para evitar violência nas escolas

A Secretaria Estadual da Educação de São Paulo tem uma equipe responsável por fazer, todos os dias, uma "varredura" nas redes sociais. O monitoramento passa por publicações de jovens e adultos, estudantes ou não, vídeos virais e hashtags que possam incentivar ou resultar em possíveis atos de violência, ameaças e incidentes dentro do ambiente escolar. 

O grupo faz parte do Gabinete Integrado de Segurança e Proteção Escolar, criado em 2019 pelo governo estadual —meses após o massacre em uma escola de Suzano. "Temos uma equipe que faz a varredura nas redes para identificar qualquer tipo de citação sobre a rede estadual ou a educação", diz Patrick Tranjan, subsecretário de Articulação e Assessoria Parlamentar.

Segundo Trajan, a ideia do gabinete é atuar, principalmente, em duas frentes: 

  • Criar estratégias para agir em casos de violência (agressão, vandalismo, ameaça);
  • Atuar na prevenção de situações como essas.

Apesar do esforço, professores e diretores avaliam que a situação dentro das escolas tem se agravado. Dados da pasta mostram que, nos primeiros três meses deste ano, houve um crescimento de 52% nos casos de ameaças dentro das unidades de ensino estaduais, na comparação com 2019 —antes da pandemia de covid-19. Entre essas ocorrências, estão ameaças entre alunos e contra professores.

Os registros de agressão física saltaram de 2.708 para 4.021 nas escolas estaduais. "A gente imaginava que teria uma mudança de comportamento [por causa da pandemia], mas era difícil imaginar qual seria essa direção", afirma Trajano. 

Para resolver o problema, o subsecretário diz que é imprescindível o envolvimento das famílias de alunos. "É preciso se envolver e se envolver não significa apenas fazer a lição de casa, ver boletim", avalia.

Especialistas e a própria secretaria acreditam que a pandemia influenciou a mudança de comportamento dos estudantes. 

"Ser adolescente tem ficado cada vez mais complexo, mas, depois da pandemia, as coisas ficaram mais complicadas para esse público. A relação com a escola ficou um pouco enfraquecida e várias questões relativas à saúde mental aumentaram." 

Gustavo Estanislau, psiquiatra da infância e adolescência e pesquisador do Instituto Ame Sua Mente

Redes sociais 

A secretaria destava que observou um aumento de fake news envolvendo ameaças de massacres dentro das escolas. Nas redes sociais, como Whatsapp e Tiktok, vídeos são compartilhados e chegam até crianças e adolescentes. Um deles mostra uma pichação em uma escola com a palavra "massacre" e a data em que isso aconteceria.

Publicações sobre como "sobreviver" caso um massacre ocorra na escola também ganharam espaço. A hashtag no Tiktok tinha mais de 20 milhões de visualizações até a semana passada e a maioria dos vídeos com essas "dicas" foi gravada entre fevereiro e maio deste ano. Os primeiros foram publicados em 2020. 

A influenciadora Ju Cassini é autora de um dos vídeos, gravado em dezembro de 2020 e que já teve mais de 2,6 milhões de visualizações.

"No começo, fiz coisas bem bobas, por exemplo, como 'sobreviver a apocalipse zumbi'. Mas começou a viralizar e as pessoas pediram vídeo sobre massacre na escola", contou ao UOL. "Fiquei surpresa, porque não era algo que tinha passado pela minha cabeça." 
Para ela, "esse tipo de informação pode ser importante, mas também pode causar pânico". Apesar disso, a influenciadora acredita que o TikTok tem evoluído nas questões de segurança e proteção dos usuários.

Estanislau aponta que a informação é importante, mas a divulgação massiva de vídeos com esse conteúdo pode ser prejudicial. "Eles podem servir como disparador e gatilho e cria um cenário de medo para quem é atingido por essas possíveis ameaças", afirma o psiquiatra. 

O subsecretário diz que o trabalho do gabinete de segurança é brecar a circulação de vídeos com conteúdo impróprio. "Vamos promover novas ações relacionada à segurança escolar e saúde mental dos estudantes", prevê.

Procurado, o TikTok afirmou que a segurança é uma prioridade para a empresa e que não permite conteúdos que promovam "atos perigosos" ou que sancionem a "participação coletiva em atividades perigosas ou prejudiciais". 

O Whatsapp, rede social em que mensagens desse tipo são enviadas pelos adolescentes, informou que, por usar "criptografia de ponta a ponta como padrão", não tem acesso ao conteúdo trocado pelos usuários.

A empresa, no entanto, afirmou que "encoraja" as pessoas a denunciarem condutas inapropriadas no próprio aplicativo. "Para cooperar com investigações criminais, o aplicativo pode também fornecer dados disponíveis em resposta às solicitações de autoridades públicas e em conformidade com a legislação aplicável." 

Para Estanislau, pe importante refletir sobre a forma como cada rede social é usada. "O Whatsapp suscita que a pessoa se comunique de uma forma mais impulsiva, o que não acontece quando você está frente a frente com alguém. Já o TikTok potencializa qualquer tipo de conduta, seja ela positiva ou negativa", opina.

O algoritmo do TikTok também, segundo o pesquisador, colabora para que determinados conteúdos cheguem apenas ao público mais jovem. "Isso dificulta o acesso do adulto a conteúdos graves, porque muitas vezes não chega para outros públicos esses vídeos."

Investigação 

No início de junho, pais e alunos de uma escola estadual da zona oeste da capital paulista se surpreenderam com mensagens nas redes sociais anunciando um massacre na unidade de ensino. A polícia foi acionada e nada ocorreu.

Para as autoridades, todos os casos divulgados nas redes sociais foram apenas ameaças e são considerados como fake news. 

Em nota, a Secretaria Estadual da Segurança Pública afirmou que este caso foi registrado em uma delegacia como ameaça. "As forças de segurança monitoram a situação e estão em contato permanente com as demais instituições envolvidas", afirmou a pasta, em nota enviada à reportagem.

Situações semelhantes têm se repetido nas escolas particulares. Em um colégio na zona sul de São Paulo, um "pequeno grupo de alunos", segundo a direção, pichou paredes das salas e do banheiro com o objetivo de seguir um desafio compartilhado no Tiktok. 

O colégio diz que conseguiu identificar os estudantes envolvidos, convocou as famílias e os alunos foram punidos. "É importante lembrar a força e a influência que as redes sociais têm em nossa sociedade, especialmente em crianças e adolescentes", alertou a instituição em comunicado enviado aos pais.

Fonte: Portal UOL | Ana Paula Bimbati - Do UOL, em São Paulo

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