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IA na educação: pesquisa nacional ouve professores para entender desafios

Projeto que inaugura o Lab Significare presenteia quem responder ao questionário com um e-book com orientações básicas para o uso da IA em sala de aula

Você é do time dos mais empolgados, dos questionadores ou dos que ainda pouco explora o papel da tecnologia na educação? Conta com o apoio da IA (inteligência artificial) no seu dia a dia ou ainda não conhece todas as possibilidades? Ainda há uma boa parte dos professores que não se sente à vontade para responder essas perguntas, especialmente aqueles com acesso limitado à internet e aos equipamentos digitais. 

Embora quase 90% das escolas brasileiras tenham conexão com a internet, menos de 30% contam com equipamentos para uso coletivo. As que possuem algum dispositivo têm, em média, 1 para cada 10 estudantes, aponta a pesquisa “Panorama nas Escolas”, realizada pelo NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR)) e divulgada em maio deste ano.

A IA tem sido anunciada como uma das soluções de apoio ao dia a dia escolar. Contudo, quem não tem acesso às ferramentas digitais sente-se excluído do debate. Pensando justamente na inquietação desses educadores, o Instituto Significare lançou a pesquisa “Inteligência Artificial na Sala de Aula: Percepções e Desafios dos Professores da Educação Básica”. 

O questionário está aberto a professores de todo o país até o dia 1º de dezembro. Quem respondê-lo, receberá um e-book gratuito, que busca orientar os educadores na construção e no aprimoramento de suas competências digitais.

A iniciativa marca a estreia do Lab Significare, uma nova frente do Instituto Significare. A pesquisa e o material disponibilizado são frutos de uma parceria com a UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), campus Cornélio Procópio. “O Lab Significare nasce com o objetivo de desenvolver ações com base científica, com apoio de universidades e centros de referência, que se traduzam em conteúdos e produtos acessíveis, considerando as especificidades dos educadores e das escolas”, explica Wellington Cruz, presidente do instituto.

“Nosso objetivo é um projeto que tenha a participação ativa desses profissionais, tentando propor algo mais prático, mas que esteja totalmente integrado às reais necessidades dos professores”, complementa Camila Sestito, professora do magistério superior no Departamento de Computação da UTFPR.

E-book de apoio

O e-book “IA para professores: guia prático abordando 3 matrizes de competências digitais” traz informações sobre o uso da IA no contexto educacional e explora três importantes matrizes de competências digitais para professores: 

Os três documentos apresentam recomendações complementares para o uso eficaz da tecnologia no contexto educacional. O CIEB, inclusive, oferece uma autoavaliação para que professores identifiquem suas competências digitais, com orientações para aprimorá-las.

“O e-book é um incentivo para que os professores participem da nossa pesquisa e tenham uma visão resumida e comparativa das competências digitais que estão sendo propostas por grandes instituições da área de inovação, tecnologia e educação. Nosso objetivo foi sintetizar esses documentos para facilitar o acesso e o uso dessas competências”, explica Camila.

Entre as principais recomendações desses documentos, estão o uso de tecnologias digitais de forma planejada, a fim de enriquecer o processo de ensino e aprendizagem, promovendo a criação de conteúdo digital, personalização de materiais e avaliação do desempenho dos estudantes, exemplifica a pesquisadora. “Além disso, esses documentos promovem o uso ético, seguro e crítico das tecnologias também incentivam a formação continuada dos professores, a partir do uso de recursos digitais”, complementa.

Sugestões e soluções

A pesquisa do Lab Significare em parceria com a universidade paranaense quer mapear a opinião de professores da educação básica que já usam ferramentas digitais e entender os pontos de atenção daqueles que ainda resistem à tecnologia, com o objetivo de oferecer suporte. Todo o material foi criado a partir de um grupo de escuta com docentes de diferentes estados e graus de acesso à IA – entre eles, Joana Marques (educação infantil) e Lute Rafael de Souza (ensino médio).

Professora de educação infantil na Creche Municipal Sagrado Coração de Maria, em Rio Branco (AC), Joana ainda não usa nenhuma ferramenta de IA para planejar suas atividades. Contudo, acredita que ao entender como acessar melhor esse tipo de ferramenta, teria novas possibilidades.

“A primeira etapa da educação é composta por campos de experiências e pelos direitos de aprendizagem, que são conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se. Nós, profissionais da educação infantil, precisamos fazer o entrelaçamento desses campos em nossas atividades, sempre considerando a escuta atenta e as expressões das crianças”, explica Joana.

As interações e as brincadeiras são os eixos estruturantes da educação infantil e, para a professora, a IA pode apontar caminhos, que depois devem ser investigados, para interações que fossem significativas para o desenvolvimento das crianças. “Precisamos, sempre, ter muita criatividade. Nesse sentido, acredito que a inteligência artificial poderia inspirar a criação de algumas práticas”, reforça a professora.

Conexão sustentável

Em Tutóia (MA), o professor Lute Rafael de Souza, do Centro de Ensino Casimiro de Abreu, coleciona uma série de projetos com seus alunos do ensino médio. Sempre levando em conta as necessidades do território, o educador tem sido premiado por iniciativas como “Produção de Combustível Sólido de Alto Rendimento com Cascas de Coco e Serragem”, reconhecida pelo Solve for Tomorrow, e “Construção e teste de fornos solares como alternativa de combate à pobreza”, finalista da primeira edição do Prêmio Professor Porvir e da primeira edição do Prêmio Educador Transformador.

Entusiasta da IA na educação, o professor de química acaba de desenvolver um novo projeto que une sustentabilidade e tecnologia: o tijolo de vidro, com uma forcinha do ChatGPT nesse processo. “Nossa cidade é praiana e recebe muitos turistas. Temos um grande desafio em relação à quantidade de garrafas acumuladas pelas ruas. Há tempos, eu e meus alunos pensamos no que fazer para tentar resolver essa situação. Vieram muitas ideias, mas nenhuma pontual”, relembra. “Jogamos as informações no ChatGPT e pedimos uma orientação sobre como resolver a questão do vidro na praia. Fomos filtrando as perguntas e a inteligência artificial nos deu uma lista de opções para explorar. Uma delas foi a possibilidade de fazer blocos usando garrafas.”

Lute e sua turma criaram um tijolo que contém apenas 17% de cimento, sendo o restante composto por vidro, entulho de obra e areia. “É um material bem interessante do ponto de vista econômico e ambiental, pois o vidro é um material que demora milhares de anos para se degradar”, explica o professor. 

A despeito do projeto bem-sucedido, Lute quer se aprofundar no uso da IA. “Por enquanto, só sei usar o ChatGPT e, ainda assim, estou aprendendo a questão dos prompts (comandos que ajudam a IA a criar respostas). Mas é possível perceber que se trata de uma ferramenta fantástica, com capacidade de fazer coisas incríveis.”

Tema global

Robson Bonidia, professor da UTFPR e também parceiro do projeto com o Instituto Significare, concorda com a visão de Lute sobre o impacto positivo da IA. “A inteligência artificial já trouxe grandes resultados em diferentes áreas impactam, e vão impactar ainda mais, a humanidade. Se a gente não começar a educar nossa população sobre inteligência artificial, as desigualdades vão aumentar ainda mais entre o norte global (que vem produzindo essas ferramentas) e o sul global”, aponta.

O educador, porém, faz uma ressalva: é preciso tornar o assunto acessível, pois muito se fala de IA na educação como se todos tivessem o mesmo nível de acesso. “A maioria das pessoas que apresenta possibilidades e benefícios da IA são especialistas, como é meu caso. Muitas vezes, a gente esquece que muitos professores ainda precisam compreender melhor, ter uma formação, é algo novo para muita gente. Falta conhecimento e habilidade para usá-la da melhor maneira. Por isso, acredito na democratização do conhecimento.”

Fundador do Projeto InteliGente, voltado ao ensino de IA e a soluções que impactam a sociedade, Robson sugere que os conceitos sejam apresentados aos alunos desde pequenos. “Em qualquer etapa, da educação básica à superior, a IA já está inserida”, reforça. “O assunto tem de estar na sala de aula porque vai ser parte do contexto diário dessa geração ou da futura geração. O ensino precisa se conectar à vida cotidiana desses alunos, e até mesmo ao mercado de trabalho futuro”, complementa. De acordo com o especialista, é papel de todo professor, além de levar o conhecimento, gerar o pensamento crítico em sala de aula. E a IA na educação é um ótimo tema para esse debate.

Fonte: Portal Porvir - Ana Luísa D'Maschio

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