Menos comparações, mais inspiração: o que podemos aprender com modelos internacionais de educação
Adriana Martinelli destaca a importância de absorver boas experiências para inovar na educação pública brasileira e explica como o tema estará presente na Bett Brasil 2024
Alguns modelos educacionais pelo mundo, comprovados por resultados consistentes ao longo dos anos, podem servir de inspiração. Entre eles, a priorização social da educação, o acesso universal e gratuito e a autonomia para gestores, professores e redes de ensino. Apesar de haver discordâncias, esses elementos são geralmente aceitos para assegurar uma educação de qualidade, com equidade e inclusão.
De modo geral, este é o modelo apresentado como base do sistema de educação da Estônia, país que se destacou no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) de 2022 e que representa o melhor resultado entre todos os países do Ocidente e o oitavo melhor globalmente. Os estonianos realmente acreditam que a educação abre uma ampla gama de possibilidades.
É natural que as pessoas tendam a usar comparações para entender melhor as situações, mas isso nem sempre funciona bem. Ao comparar a educação entre países, como a Estônia e o Brasil, essa abordagem pode ser limitada. Cada sistema educacional tem suas características únicas, e o que funciona para um pode não ser ideal para o outro. Portanto, é melhor avaliar cada sistema por si só, em vez de fazer comparações diretas.
Na tentativa de analisar a “gama de possibilidades” e o contexto de cada realidade, vamos imaginar que os dois países, Estônia e Brasil, são barcos. Estônia como um barco de pequeno porte, de 6 metros de comprimento por 2 metros de largura. E outra imagem, o Brasil, um transatlântico, de 270 metros de comprimento por 52 de altura. Cada um com investimento, estruturas e eficiência distintos, embora ambos com o mesmo propósito de atravessar oceanos – leia-se, Educação!
A Estônia é um país com aproximadamente 1,5 milhão de habitantes e área total menor que o Espírito Santo. No Brasil, somos 215 milhões de habitantes em uma área de 8,5 milhões de km².
O sistema educacional brasileiro é um transatlântico que navega com 47,3 milhões de alunos matriculados em 178,5 mil escolas. No ensino fundamental são 26,1 milhões de matrículas em 121,4 mil escolas, 103,8 mil alunos nos anos iniciais (1º ao 5º) e 61,8 mil nos anos finais (6º a 9º). No ensino médio, geralmente de responsabilidade dos governos estaduais, são 7,7 milhões de matrículas. Esse é o tamanho do nosso barco, se olharmos apenas a educação pública.
Os números e dados relativos à educação brasileira são sempre superlativos. Inegável a contribuição do sistema de ensino privado para o país, embora a maioria dos nossos estudantes esteja matriculada na rede pública – 86% das escolas básicas brasileiras são públicas.
Há muitos anos, diversas pesquisas revelam que entre as principais preocupações dos brasileiros está a educação – no mesmo nível estão saúde e segurança pública. O que a sociedade brasileira quer é uma educação ofertada de forma universal, igualitária e inclusiva, em tempo integral, com fortalecimento da alfabetização, atenção aos estudantes de ensino médio, cultura da educação voltada ao trabalho, à educação profissional e às novas perspectivas para o ensino superior.
A sociedade como um todo e as instituições educacionais se esforçam para fortalecer essas premissas. Olhar os cenários educacionais de outros países e do Brasil não requer ou permite comparações, mas inspiração. Tal como somos inspirados em valorizar a educação e os profissionais da educação. Por isso, é necessário pensar na educação pública e em políticas públicas educacionais.
Ou seja, o Brasil precisa ampliar sua visão além das soluções imediatistas, que raramente cobrem até mesmo as necessidades de curto prazo. É essencial pensar e planejar estrategicamente para o médio e longo prazo, estabelecendo uma base sólida para o avanço consistente do sistema educacional.
É neste sentido que se faz necessário apoiar com urgência os debates relevantes e inerentes à educação pública brasileira. Abrir espaços e dar oportunidade para todos os interessados em refletir sobre a aprendizagem e as inovações para o setor. Obviamente, com investimento eficiente, equidade, inclusão e propósito.
Com uma abordagem inovadora, a Bett Brasil 2024 está expandindo seus horizontes e criando espaços dedicados ao diálogo sobre educação pública, oferecendo oportunidades únicas para aprofundar as discussões e explorar novas perspectivas neste campo.
Criamos áreas exclusivas e gratuitas para promover diálogos, como, por exemplo, o Lounge Exclusivo para Gestores Públicos, um local reservado para lideranças trocarem experiências, compartilharem iniciativas e construírem parcerias e planejamentos de ações futuras.
Outra novidade da edição deste ano é o Auditório Gratuito para Debates, também aberto a todos os participantes, e que será um centro de discussões enriquecedoras sobre a educação pública, com painéis para compartilhamento de relatos de experiências e propostas práticas para os desafios do setor, em que redes municipais e estaduais trazem suas conquistas e desafios para buscarem ainda mais parcerias e soluções.
A Bett Brasil se estabelece como um ‘estaleiro educacional’ inovador, fornecendo, além de ferramentas, espaços dinâmicos para construir embarcações educacionais de todos os tamanhos. Nosso objetivo é equipar os participantes para que naveguem com sucesso no vasto oceano da educação, superando desafios e aproveitando oportunidades, independentemente do tamanho ou tipo de ‘barco’ que escolham construir.
A história demonstra que é possível atravessar oceanos seja em uma pequena embarcação a remo, seja em um transatlântico. Mais uma vez, não é o porte da embarcação que importa, mas sim ter um bom planejamento, investimento com eficiência e propósito.
Com os desafios que temos pela frente, e cientes de que mar calmo nunca fez bom marinheiro, é hora de redesenhar a nossa trilha educacional, a começar pelo diálogo. Nossos espaços estão abertos, alicerçados naquilo que vai nos nortear na Bett Brasil 2024: Inovação como Propósito: Educação em Diálogo com as Transformações Sociais.
Adriana Martinelli - É diretora de conteúdo da Bett Brasil
Fonte: Portal Porvir - Adriana Martinelli