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Mudanças climáticas: planos de aula apoiam o debate na escola

Confira propostas pedagógicas para professores da educação básica e da educação bilíngue debaterem as causas e consequências da crise climática

Em Primavera do Leste, município localizado a 240 km de Cuiabá (MT), os termômetros costumam registrar altas temperaturas. Mas nada se comparou ao mês de outubro: no dia 16, eles marcavam 46º C. Coincidentemente naquela semana, a professora Jaqueline Piovesan Matana trabalhava com seus alunos uma sequência de aulas sobre mudanças climáticas, e o sofrimento com o calor promoveu um debate ainda mais intenso. “Saímos da teoria e fomos para a vivência na prática. Nunca havia feito uma temperatura tão alta, todos sentimos, de fato, a gravidade do aquecimento global”, conta a professora, que dá aulas de inglês para as turmas do terceiro ao oitavo ano do ensino fundamental no colégio Mãe Divina Providência.

O ano de 2023 caminha para ser o mais quente da história. Diversos fatores podem explicar essa onda de calor: o fenômeno climático El Niño, liberando mais calor do que nos anos anteriores, ou mesmo o gelo marinho que rodeia a Antártica, muito abaixo do normal para os níveis de inverno, conforme reportagem recente da BBC Brasil. As causas e consequências da crise climática estavam no centro do debate das aulas de Jaqueline. “Falamos sobre os impactos sentidos também na lavoura e na agropecuária, com forte presença na região. Entendemos que o futuro é agora, que precisamos agir. E começamos a pensar em soluções conjuntas.”

Plantio de árvores, coleta seletiva do lixo e reciclagem foram algumas das propostas. Mas não só. Com o apoio de uma ferramenta de inteligência artificial, os estudantes criaram imagens de como gostariam de ver o planeta daqui a 30 anos. As previsões contidas nas imagens feitas por mais de 300 alunos foram impressas e expostas no corredor de entrada da escola.

A atividade integra os planos de aula sobre mudanças climáticas para crianças e jovens do Projeto Estimule a Empatia, do Edify. Disponível gratuitamente para qualquer escola interessada em aplicá-lo, o material traz um gerador de imagens: basta clicar neste link, rolar a página até o final e descrever, em inglês, qual imagem pode traduzir o futuro que você almeja. 

Lançado em 2021, o projeto é focado em temas sociais, que buscam promover reflexão e empatia entre estudantes de diferentes idades. “Em julho de 2023, batemos a maior temperatura média global da história. A necessidade de mudança é urgente. No Projeto Empatia, buscamos trazer propostas relevantes e atuais para a reflexão de nossos alunos, para que saiam mais conscientes e confiantes de que podem ser protagonistas na construção de um mundo melhor”, diz Nelson Toledo, coordenador acadêmico e editor de conteúdo digital do Edify, sobre a escolha da temática desta etapa. 

A equipe também se inspirou na COP, maior conferência sobre mudanças climáticas do mundo, realizada pela ONU (Organização das Nações Unidas), para desenvolver o material pedagógico. “Em novembro, líderes mundiais se reúnem na COP 28. E se, para além deles, a voz dos alunos também fosse ouvida? E se a inteligência artificial – tema tão atual e ferramenta com enorme potencial para alunos e professores – fosse um meio para os estudantes compartilharem suas esperanças e fazerem delas a chave para um novo começo?”. O questionamento motivou a criação do material.

Clique na imagem abaixo para conferir a galeria de fotos:

Consciência ambiental

Estabelecida em 1999, a Política Nacional de Educação Ambiental institui que todo indivíduo tem o direito à educação ambiental formal e não-formal, em todos os níveis e modalidades de ensino.

Em entrevista à plataforma Vivescer parceira do Porvir, o diretor do movimento Escolas pelo Clima, Edson Grandisoli, afirma que a pauta climática une todas as pessoas e todos os seres vivos. “As instituições de ensino e os educadores devem informar e estimular o desenvolvimento de ações de enfrentamento a essa realidade”, diz. “Esse trabalho é fundamental para promover o letramento científico, valorizando o papel da ciência na busca por soluções para desafios comuns, tanto locais como regionais, e formando novos cidadãos que se sintam corresponsáveis pelo futuro do planeta.”

No caso da educação bilíngue, tratar de temas atuais apoia o desenvolvimento da oralidade em inglês, além das habilidades do século 21, como criatividade e pensamento crítico, afirma Rafael Miranda, editor de conteúdo do Edify. “Pensamos em um plano de aula diluído em alguns dias com espaço para muita discussão, colaboração, trabalhos entre pares e trios. Com as provocações do professor, o aluno desenvolve não só a comunicação oral, mas o pensamento crítico, ancorado em bases linguísticas, fazendo com que ele se sinta capaz de participar de uma discussão com essa complexidade com mais segurança”, explica. 

Nelson Toledo complementa: a educação bilíngue enriquece o debate sobre mudanças climáticas ao oferecer acesso a uma variedade maior de informações e perspectivas mais abrangentes. “Dominar mais de um idioma abre portas para compreendermos melhor o problema das mudanças climáticas em um contexto mais amplo e diversificado”, assegura. Rafael também destaca a importância de debater desafios contemporâneos para formar o estudante como um cidadão do mundo. “Desenvolver a competência linguística do aluno em uma língua global já abre oportunidade para que ele tenha acesso à informações produzidas em qualquer lugar do mundo. Temas como esse fazem com que o estudante pense no seu papel, na sua responsabilidade e na do outro”, pontua, também em referência ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais que fazem parte do processo. 

Materiais para o debate

Atualmente, são quase 24,8 milhões de crianças e adolescentes expostos ao risco de poluição de ar ambiente, quase 13,6 milhões delas expostas a ondas de calor, e 2,1 milhões em zonas de alerta no Brasil, informa o material The climate Crisis is a Child Rights: Introducing the Children’s Climate Risk Index (“A Crise Climática é uma Crise de Direitos Para Crianças: Apresentação do Índice de Risco Climático Para Crianças”, em tradução livre). A pesquisa faz parte do relatório ”Crianças, Adolescentes e Mudanças Climáticas no Brasil”, do Unicef (Fundo das Nações Unidas Para a Infância), divulgado no final de 2022. 

A fim de apresentar os conceitos de justiça climática, racismo ambiental e como o diálogo entre diferentes gerações estimula o debate sobre educação ambiental, o Porvir foi selecionado pela Ajor (Associação de Jornalismo Digital) com o apoio do iCS (Instituto Clima e Sociedade), para produzir uma reportagem e um e-book a fim de apoiar o trabalho dos professores em sala de aula.

A matéria especial traz o diálogo entre os conhecimentos ancestrais e o ativismo climático de crianças, adolescentes e jovens nas periferias de São Paulo. Foram entrevistadas lideranças quilombolas e educadores indígenas de diferentes regiões do país, e também são retratados diferentes projetos desenvolvidos em escolas públicas da capital.

No e-book disponível para download, estão reunidos conceitos e recomendações para educadores. Os professores contam, ainda, com um material extra: planos de aula construídos pelo Porvir com o apoio de professores de diferentes etapas da educação básica, alinhados à BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Confira:

Educação infantil – Semente ancestral 

O que podemos aprender com as crianças que moram em comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas? Mergulhe em histórias, explore elementos da natureza e cultive uma semente ancestral.

Ensino fundamental 1 – Juntos pelo planeta

Cuidar do planeta é uma missão de todos. Nesta atividade, o convite é para que todos se unam às crianças indígenas Kalapalo (do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso do Sul) para preservar a natureza e refletir sobre como as nossas ações podem gerar impactos negativos no meio ambiente.

Ensino fundamental 2 – Quem tem medo da chuva?

A chuva é fundamental para a manutenção da vida no planeta, mas para também é um sinal de alerta. Nesta atividade, os estudantes entendem como as enchentes e as ações humanas interferem no curso natural dos rios. Também é mostrado como as águas são consideradas sagradas dentro das culturas indígenas.

Ensino médio – Voz ancestral para o futuro

Se há futuro a ser cogitado, esse futuro é ancestral. Com base na reflexão feita pelo escritor e líder indígena Ailton Krenak, a turma pode conhecer comunidades tradicionais para entender como os seus saberes podem fortalecer a luta pelo clima das juventudes.

Clique aqui para baixar os materiais

Fonte: Portal Porvir - Ana Luísa D'Maschio

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