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Projeto escolar une matemática, práticas de sustentabilidade e ação social

Iniciativa de professoras de Gurupi (TO) com turma do 9º ano resultou em aprendizado interdisciplinar e mobilização da comunidade

A preocupação com questões ambientais e sociais é cada vez maior em todos os setores da sociedade. Como professoras, acreditamos que esse debate é fundamental: deve começar na sala de aula e ser levado à comunidade. Há um ano, o estado do Tocantins propôs aos professores de ciências da natureza que criassem projetos na área. Logo, nós três (Juliana, Noemia e Elisângela, das disciplinas de ciências, educação física e geografia, respectivamente) nos juntamos para desenvolver uma proposta na Escola Estadual Fé e Alegria Paroquial Bernardo Sayão.

A escola está localizada no município de Gurupi (TO), distante 214 km da capital Palmas. Reunimos nossa turma do 9º ano para o primeiro passo da atividade, uma análise detalhada do contexto local. Entre os problemas encontrados no território, estavam o acúmulo de lixo, devido à falta de coleta seletiva, e o desconhecimento da importância da reciclagem.

Isso gera sérios problemas, como a proliferação de vetores de doenças, a poluição do solo e dos recursos hídricos, e a degradação da paisagem urbana. Em nossa comunidade, a ausência de um trabalho com descarte de latinhas e outros materiais recicláveis é uma questão recorrente: sempre vemos latinhas e tampinhas indo parar em aterros sanitários, o que contribui para a poluição do solo e para a degradação ambiental. A situação é agravada pela falta de conscientização sobre a importância da reciclagem e de separar corretamente os resíduos para reaproveitamento.

Decidimos investir nessas questões. Batizamos a ideia de “Projeto paroquial sustentável – transformando latinhas em oportunidades”. Nós nos propusemos a recolher latinhas de alumínio e tampinhas plásticas com alguns objetivos: estudar cientificamente suas composições e entender como afetam a natureza quando mal descartadas, bem como entender o quanto seria possível conseguir com a venda do material reciclável. Somado a tudo isso, pedimos a ajuda dos professores de matemática para que se apoiassem nessa atividade em suas aulas de educação financeira.

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Soubemos que o Hospital do Câncer, em nosso município representado pela Liga Feminina de Combate ao Câncer, enfrentava desafios de financiamento para oferecer suporte adequado aos pacientes. Por isso, decidimos que o dinheiro arrecadado ao final do projeto seria doado para essa instituição. 

Consciência ambiental e social

Além de servir como fonte de renda para muitas famílias, a reciclagem do alumínio traz muitas vantagens. Estudamos sobre a bauxita (principal matéria-prima do alumínio) e como se consome tanta eletricidade para fazer sua extração. Quando o material é reciclado, somente 5% da energia é consumida na criação de novas mercadorias. 

Quanto tempo leva para o alumínio ou uma tampinha de plástico se decompor? E o lacre das latinhas? Perguntas como essa despertam bastante a curiosidade da turma e permitem o trabalho em classe com diferentes disciplinas.

Também notamos que a coleta e a reciclagem nos permitiria abordar diferentes ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), que, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) devem ser implementados por todos os países que assinaram o pacto até 2030.

Na educação financeira, o assunto igualmente rendeu. Qual o preço da latinha? E do alumínio in natura versus o alumínio reciclado? Como calcular as vendas? A turma também está aprendendo a trabalhar com porcentagem com o apoio desse processo. 

Adaptamos materiais didáticos sobre finanças pessoais e práticas sustentáveis e realizamos palestras e aulas para alunos e integrantes da comunidade escolar sobre finanças e sustentabilidade. 

Apoio comunitário

Saímos da escola para conquistar o engajamento da comunidade. Queríamos, assim, unir responsabilidade ambiental e responsabilidade social. 

Fizemos anúncios nas missas, conversamos com os responsáveis e com os funcionários de restaurantes e bares. Temos mães que trabalham como garçonetes e cozinheiras que abraçaram o projeto e colocaram caixas bem visíveis nos estabelecimentos, convidando os frequentadores a depositar ali o que havia sido consumido no almoço ou no jantar. 

Desenvolvemos estratégias de comunicação, incluindo folhetos, cartazes e posts em redes sociais. Monitoramos todo o resultado para avaliar o impacto das ações, coletar os retornos das coletas e ajustar as estratégias conforme necessário.

Resultados alcançados

As latinhas foram compactadas, contadas e vendidas para reciclagem, enquanto as tampinhas foram organizadas e entregues à Liga Feminina de Combate ao Câncer para serem encaminhadas ao Hospital do Câncer. Também firmamos parcerias com empresas de reciclagem e negociamos condições favoráveis para a venda do material.

Durante o primeiro período do projeto, conseguimos arrecadar 184 kg de latinhas. Negociamos o valor de R$ 6 cada uma com a empresa Gurupi Reciclagem, o que gerou surpreendentes R$ 1.110. Com o dinheiro, também pudemos comprar uma televisão para a escola.

Ao final do projeto, compilamos dados sobre a quantidade de latinhas recicladas e tampinhas doadas, e elaboramos um relatório detalhado sobre os resultados e os aprendizados. As turmas vencedoras, que mais arrecadaram, foram celebradas em uma cerimônia especial, recebendo certificados de Eco Guardiões e participando de um evento com café da manhã e atividades lúdicas.

Quando ouvimos de um colega de trabalho ou de um aluno que não pode ver mais uma latinha ou uma tampinha na rua, que imediatamente param o carro, a moto ou a bicicleta para guardar na mochila ou em uma sacola… Isso tem valor inestimável, pois estamos todos aprendendo a cuidar da natureza. Por vezes, são pessoas da comunidade que nada tem a ver com a escola, mas o projeto as impactou.

Em resumo, o projeto multidimensional não só alcançou os desafios identificados, mas também promoveu uma abordagem colaborativa e organizada, tudo sem valer nota, mais pela conscientização. E o melhor: já estamos trabalhando em mais uma etapa do projeto, com a expansão das atividades de coleta, novos workshops, e reforço das parcerias comunitárias.

Elisangela Almeida Nascimento - Graduada em Geografia pela UEG (Universidade Estadual de Goiás) e pós-graduada em EJA (Educação de Jovens e Adultos). Com experiência acumulada desde 2003 como professora em escola pública, desenvolve e implementa estratégias educacionais voltadas à compreensão e análise do espaço geográfico, com foco na inclusão e na promoção da educação para jovens e adultos.

Juliana Gomide Duarte - Licenciada em Ciências Biológicas, pela UFG (Universidade Federal de Goiás), tem pós-graduação em Especialização em Metodologia de Ensino de Ciências da Natureza, pela Universidade Estácio de Sá. É professora da educação básica desde 2003.

Noêmia Alves Bottega - Licenciada em Educação Física pela UNIRG (Universidade de Gurupi), é pós-graduada em Educação Física Escolar. Tem 13 anos de experiência na rede pública estadual, atuando com diversas faixas etárias no ensino fundamental.

Fonte: Portal Porvir - Elisangela Almeida Nascimento / Juliana Gomide Duarte / Noêmia Alves Bottega

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